RSS : / Comentários


13:34, Postado por Bianca, Nenhum Comentário

Eletricidade no Brasil

Em 1879, Thomas Edison inventou a primeira lâmpada incandescente prática, barata e capaz de competir com a iluminação a gás. Três anos depois, em 1882, ele inaugurou, em Nova Iorque, a primeira central americana de serviço público de geração e distribuição de eletricidade: a Pearl Street Central Station.


Nesse mesmo período, no Brasil, a Câmara Municipal da cidade de Campos dos Goytacazes, no estado do Rio de Janeiro, aprovava, em 1881, a substituição da iluminação pública a gás pela iluminação a energia elétrica. Dois anos depois, em junho de 1883, nessa mesma cidade, era inaugurado o primeiro serviço público de iluminação elétrica da América do Sul, na presença do imperador D. Pedro II.

Esse sistema em corrente contínua tinha capacidade de 52 kW e fornecia energia para iluminar 39 lâmpadas. À época da sua inauguração, Campos era a principal área açucareira do Estado do Rio de Janeiro. A economia do açúcar fluminense estava entre as três mais importantes do país, ficando atrás apenas de Pernambuco e da Bahia.

Em 1889, seis anos após a experiência pioneira no norte fluminense, a primeira hidroelétrica da América do Sul era inaugurada; tratava-se da Usina de Marmelos, idealizada pelo industrial mineiro Bernardo Mascarenhas para abastecer a sua fábrica de tecidos e prover a cidade de Juiz de Fora de iluminação elétrica.

A central de Marmelos-zero foi inaugurada com capacidade de 250 kW. A combinação de energia elétrica e industrialização transformou Juiz de Fora na “Manchester mineira”. A solução empregada em Juiz de Fora contemplava dois sistemas: um em corrente contínua, para os usos industriais; o outro em corrente alternada, para a iluminação.

Houve dois eventos que antecederam às experiências de Campos e Juiz de Fora e que reforçam essa contemporaneidade. O primeiro deles foi a iluminação por energia elétrica da estação central da ferrovia D. Pedro II (Central do Brasil), já em 1879; o segundo foi a entrada em operação, em Diamantina, de uma central hidroelétrica no Ribeirão do Inferno para suprir de energia elétrica uma mineradora, no ano de 1883. No entanto, Campos e Juiz de Fora, em função de suas capacidades e características, são consideradas as duas experiências mais importantes.

Desse modo, pode-se observar que houve um hiato muito pequeno entre a invenção da lâmpada, a fundação da primeira central americana e a entrada em operação da primeira central brasileira de serviço público; demonstrando a contemporaneidade da indústria de suprimento de eletricidade do Brasil que, desde os seus primórdios, teve como traço marcante do seu desenvolvimento, justamente, esse atributo.

Para se ter uma idéia dessa contemporaneidade basta ver as repercussões do embate sobre a melhor forma de configuração do setor elétrico nascente entre a corrente alternada e a corrente contínua, conhecido como a batalha dos sistemas.

A polêmica era tão forte que transcendia as fronteiras americanas. Assim, em 1888, no distante Brasil, em particular na pequena Juiz de Fora, Bernardo Mascarenhas - o pioneiro da instalação hidroelétrica no país - optou pela instalação de dínamos que permitiam a geração em corrente alternada e corrente contínua, a primeira para a iluminação e a segunda para os motores.

O embate entre os sistemas envolvia a opinião pública de várias maneiras. Uma delas era a preocupação com a ameaça representada pelas linhas de alta-tensão. Em 1889, Bernardo Mascarenhas divulgava na imprensa local um comunicado de um certo Doutor Wheeler, membro da comissão de inspeção de eletricidade de Nova York, que afirmava que de 1258 mortes produzidas por desastres, naquela grande cidade, apenas 5 casos fatais foram atribuídos à eletricidade, com 64 casos sendo imputados a estradas de ferro; 17 a explosões de querosene; 32 a explosões e sufocações a gás de iluminação e 55 a desastres de carros e carroças.

O moderno e o arcaico

Um aspecto importante da contemporaneidade da experiência brasileira com a energia elétrica no final do século XIX é que ela ocorre em um contexto social marcado pela existência da escravidão. A iluminação da estação D. Pedro II, no mesmo ano em que o Menlo Park foi iluminado por Edison, e a implantação da iluminação pública em Campos, menos de um ano depois da primeira central elétrica de serviço público americana, denotam o apreço pela modernidade técnica existente no Brasil naquele momento; contudo, essa modernidade não se estende às relações sociais, marcadas pela existência da escravidão, que só será abolida em 1888. Considerando que a região de Campos obtinha a riqueza, necessária para se ter, à época, a iluminação elétrica, da atividade açucareira, que se sustentava no trabalho escravo, tem-se uma articulação na qual se juntam modernidade e atraso social. Nesse caso, os opostos não se negam, mas se complementam. Assim, tem-se a eletricidade, a síntese da nossa contemporaneidade no campo tecnológico, convivendo com a escravidão, a síntese da nossa extemporaneidade no campo social.

A contemporaneidade original

Outro aspecto da contemporaneidade da introdução da energia elétrica no Brasil que deve ser ressaltado é a sua originalidade em relação à introdução de novas tecnologias no Brasil. Até então esse processo se dava com grande atraso. Para se ter uma idéia, a introdução da iluminação a gás se deu no Brasil cinqüenta anos depois da experiência pioneira em Londres, e a chegada do transporte coletivo sobre trilhos ocorreu 30 anos depois de ele ter sido introduzido na Europa e nos Estados Unidos. Em contraste, no caso da introdução da eletricidade, os processos no Brasil, na Europa e nos Estados Unidos, praticamente se desenvolveram em paralelo.

No Comment